Parto natural: é tão difícil assim?

Desde pequena eu nunca entendi porquê, nas minhas fotos de nascimento, o médico precisou cortar a barriga da minha mãe para me tirar de lá. Deveria ter um jeito diferente do bebê nascer que não fosse esse. E é claro que tinha: o jeito natural, o "certo", que a natureza criou.

Eu levei algum tempo para entender isso quando criança, mas depois que cresci, eu coloquei na minha cabeça que quando eu engravidasse, meu parto seria normal. Afinal, se isso fosse algo tão horrível, não se chamaria "parto normal", né minha gente? Se ambas as minhas avós tiveram 8~9 filhos por parto normal, em casa, a coisa não devia ser tão complicada.

Eu não sei se as mulheres tem tanto pânico assim de sentir dor, ou se querem ficar livres logo do trabalho de parto, só sei que não consigo entender porque uma pessoa em sã consciência iria preferir uma cirurgia para interferir em algo que seu corpo foi projetado para fazer de forma natural e comum.

Até porquê, quem gosta de ir pra casa com um bebê pequeno pra cuidar e uma barriga cheia de pontos? Sei lá, pra mim cesariana deveria ser um procedimento emergencial, nunca uma opção.


Barriga de 23 semaninhas.

Na primeira consulta que eu fiz depois de ficar grávida, já avisei minha obstetra desse meu desejo por um parto natural. Ela me disse que fazia parto normal, claro, mas que não dava mais plantão em maternidade. Por isso, se eu quisesse fazer com ela, teria que pagar particular. Ou isso ou deveria fazer com o médico plantonista em qualquer hospital do meu plano de saúde.

Basicamente, aquela história de sempre: ou fazia uma cesariana agendada, ou teria que pagar uma pequena fortuna para a minha médica poder me acompanhar no trabalho de parto, se eu não quisesse fazer com um médico que nunca vi na vida - e que, no fim, poderia me induzir a uma (desne)cesárea do mesmo jeito... afinal, isso é Brasil. Nessa hora eu fiquei realmente desanimada.

Logo após isso eu conversei com uma amiga sobre as inseguranças que eu tinha nesse quesito, e ela me contou que em Belo Horizonte temos a Maternidade Sofia Feldman, que é uma entidade filantrópica ligada ao Sistema Público, referência em parto natural. Gostei muito do trabalho lá e parecia ser uma lugar ótimo, mas ao mesmo tempo não queria que essa fosse minha "única" opção, sabe? Não que fosse ruim, muito pelo contrário... ouvi depoimentos lindos de partos naturais no Sofia e me emocionei bastante. Mas eu queria saber mais.

Então eu resolvi me envolver de verdade e pesquisar melhor as opções que eu tinha, porquê, no fim das contas, eu preferia pagar por certos serviços particulares para tudo sair da maneira mais próxima do que eu tinha em mente.

Foi quando ouvi falar de verdade sobre Parto Humanizado e pela primeira vez eu senti: é isso que eu quero para mim e para meu bebê.

"Humanizar o parto é dar liberdade às escolhas da mulher, prestar um atendimento focado em suas necessidades, e não em crenças e mitos. O médico deve mostrar todas as opções que a mulher tem de escolha baseado na história do pré-natal e desenvolvimento fetal e acompanhar essas escolhas, intervindo o menos possível. 

 É a mulher que escolhe onde ter o bebê, qual acompanhante quer ao seu lado e tem liberdade de movimentação durante o trabalho de parto. Ela também escolhe qual a melhor posição na hora do nascimento e tem o direito de amamentar na primeira meia hora de vida do bebê. 

A dor é entendida como uma função fisiológica normal e é a mulher quem escolhe se quer aliviá-la com métodos não-farmacológicos ou se deseja analgesia peridural. 

 O Parto Humanizado significa direcionar toda atenção às necessidades da mulher e dar-lhe o controle da situação na hora do nascimento, mostrando as opções de escolha baseados em evidências científicas e nos direitos que tem." Fonte: Instituto Nascer

Ou seja, respeitar a fisiologia da mulher, seu corpo e seus desejos.


Tudo pela criaturinha aqui dentro...

E depois de algumas conversas com minha obstetra, cheguei à conclusão que, se eu quisesse isso, ela não poderia ser a minha primeira, muito menos a única opção. Inclusive ela foi bem sincera e me fez lembrar que não faria nada diferente do tradicional parto em posição horizontal, atendendo somente em dois hospitais específicos (que nem eram os que eu gostaria, inclusive). Me recomendou procurar outros profissionais que se encaixassem melhor no perfil que eu procurava.

Com isso, busquei indicações e fui direcionada para a equipe do Instituto Nascer. Vi o site deles, li tudo e fiquei um bocado satisfeita com as informações que encontrei.

Fui visitá-los essa semana com o marido e sinceramente, ficamos maravilhados com o plano de parto e pré-natal oferecido por eles, inclusive com a presença de uma doula, na maternidade que eu escolhesse. Obviamente, não é um serviço barato, mas pesando todos os prós e contras, decidimos que preferimos pagar pelo conforto da minha escolha do que correr o risco de eu ser forçada a colocar meu bebê no mundo de uma maneira que me deixe triste e frustrada.

Nos inscrevemos em um curso de parto com eles e vamos ver como vai ser. Eu vou atualizando esse assunto por aqui cada vez que fecharmos algum detalhe, porque pode ser de utilidade para outras mulheres que estão passando pelas mesma dúvidas que eu.

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