Minha experiência com amamentação

Hoje minha filha completa 6 meses de vida e eu completo 6 meses de maternidade. E consequentemente, 6 meses de amamentação.

No Brasil, amamentar por 6 meses já é uma vitória para muitas mulheres, considerando que a média no país é de 54 dias. No meu caso, é mais do que uma vitória, é um tapa na cara de quem achou que eu não daria conta, considerando meu histórico.

Explico: há cerca de 10 anos eu fiz mamoplastia, uma cirurgia de redução de seios. Tive parte da glândula mamária removida. A maioria de quem faz esse cirurgia, seja por danos aos dutos mamários ou mesmo falta de informação, acaba desistindo de amamentar.

Mas eu estava pronta para amamentar minha filha, com ou sem cirurgia prévia. Procurei me informar, consultei profissionais de lactação, tive ajuda da minha doula e principalmente, estava DECIDIDA a não desistir, porque o negócio é punk. E em níveis épicos.

Eu e o marido, na primeira mamada da nossa bebê.

As minhas primeiras semanas de amamentação foram um verdadeiro inferno. Parir sem anestesia foi fichinha perto da dor que eu passei amamentando, sério. Além da dor no períneo, que mal me deixava sentar (e nem foi pelo parto normal, mas tive hemorróidas na gravidez, que ficaram por 3 meses pós parto), meu leite demorou 5 dias para descer. Isso mesmo: CINCO dias.

Quando isso aconteceu, meu seio inchou absurdamente, principalmente no local da cicatriz da cirurgia no mamilo, o que dificultou a pega da bebê (muito peito pra pouca boca, literalmente). E pra completar, quando saí da maternidade, o bico já começou a ficar machucado. Com o passar dos dias, feriu de sangrar, chegou a rachar e tudo. Cada vez que a bebê mamava, eu passava mal de dor. Algumas vezes até gritava. Ela chorava com fome e eu chorava só de pensar em dar o seio novamente.

Além disso, tive um baby blues bem punk, com crises de pânico. Eu tenho um histórico de depressão, o que não me ajudou muito nessa hora. Cheguei a rejeitar a bebê, por medo de não conseguir cuidar dela, tinha medo de morrer, de deixá-la morrer, uma sensação de vazio interior. E no meio dessa crise toda eu acabava pulando mamadas por estar muito cansada e em privação de sono e a menina esguelava de fome. Sorte que tive muito apoio da minha mãe, marido e cunhada nesses primeiros dias, porque não foi um processo tranquilo.

Também conversei muito com o meu obstetra (um fofo, que me atendeu em pânico de madrugada e tudo, foi mals!), que me recomendou procurar ajuda profissional, vendo minha fragilidade. Marquei uma consultora de amamentação e psicóloga, que me ajudou quando o leite desceu. Ela me ajudou a massagear as mamas e dissolver os nódulos que iam se formando e endurecendo no seio. Ela me orientou a ajudou bastante. Mas mesmo acertando a pega (veja AQUI sobre pega correta), a coisa não estava fluindo como deveria.

Eu fiz o que todos os profissionais recomendam: tomava sol no mamilo, passava meu leite e deixava secar após as mamadas, ficava sem blusa o dia todo pra deixar secar e tomar ar... mas mesmo assim, o processo de cicatrização foi lento e bem dolorido, o que influenciou bastante na quantidade de leite que a bebê ingeria e no ganho de peso dela.

Depois de algumas consultas com a pediatra, vimos que a bebê não estava mamando leite suficiente para ganhar peso, pois engordou menos de 100g nas 3 primeiras semanas de vida e não havia nem recuperado o peso do nascimento (bebês perdem peso ao nascer, cerca de 10% a 15%. Minha filha perdeu exatos 15% após sair do hospital). Além disso, por estar fazendo muito calor, ela teve início de desidratação, mesmo mamando praticamente dia e noite inteiros, comigo gemendo de dor. Fora que eu mal dormia e estava sempre estressada e cansada, o que prejudicou ainda mais a produção de leite.

A pediatra então sugeriu a complementação. Eu resisti bastante no começo e considerei mudar de médica. Inclusive ela mesma disse que eu poderia trocar de profissional se eu quisesse, mas que ela tinha que me dar opções, porque esse era o trabalho dela e ela já havia atendido outras mulheres nessa situação (mamoplastia redutora prévia), por isso sabia que era mesmo algo delicado e que poderia ter um desfecho ruim para minha filha se eu não cedesse um pouco.

Então, depois de muito pensar, sofrer pressão do marido com a filha desidratada chorando no colo e recolher os caquinhos do coração de mãe despedaçado, eu decidi: resolvi dar fórmula para complementar depois da terceira semana sem ganho notável de peso.

Mas eu não parei de amamentar e nem dei mamadeira. O que eu fiz? Usei o método sonda de translactação (ou relactação), dando leite artificial junto com o seio, pra ela não deixar de ingerir o tão importante leite materno. Inclusive foi a própria pediatra que indicou o método.

Processo de translactação com sonda

Por mais que não fosse o que eu considerava ideal (na minha cabeça ia amamentar exclusivamente, com unicórnios cantando ao meu lado), complementar a amamentação me ajudou muito. Deixou a bebê mais calma e com intervalos maiores entre as mamadas, o que foi essencial pra minha cicatrização. Além disso, ela recuperou o peso rapidamente, passou a dormir muito melhor á noite e com isso eu pude descansar mais.

Consequentemente, já no segundo mês de vida da minha filha e depois de um mês desse processo, meu seio estava praticamente curado e passei até a produzir mais leite materno. Estava sendo possível até ordenhar (pouco, mas ainda assim era leite materno) e colocar meu leite junto do complemento em algumas mamadas.

A minha ideia era retirar o complemento com o tempo, mas isso infelizmente não aconteceu. Foram muitos altos e baixos, e no fim a fórmula de dava aquela (talvez falsa) segurança de que minha filha estava bem alimentada se meu leite não fosse suficiente. Cheguei a tirar a fórmula durante o dia totalmente, dando apenas uma vez antes dela ir dormir. Mas isso durou apenas algumas semanas.

Então reintroduzi o complemento de dia novamente, mas durante a noite deixava ela na cama comigo, mamando a noite toda se fosse necessário, enquanto eu cochilava junto. E fomos indo assim.

Ou seja, infelizmente não consegui abandonar o complemento, mas fiz isso sem uso de bicos artificiais: nada de mamadeiras ou chupetas, que são inimigos da amamentação. E seguimos assim até hoje!

Foi difícil, sofrido, doloroso e eu nunca teria conseguido sem o apoio do meu marido e familiares. É muito fácil desistir no meio de tanta dor, cansaço e desespero. Mas posso dizer, depois de passar por tudo: valeu MUITO à pena. Amamentar é um laço incrível entre mãe e filho, além dos benefícios nutricionais e imunológicos.

Agora a bebê tem 6 meses e há alguns dias já começou a introdução alimentar, que tem tido uma aceitação muito boa. Ainda pretendo amamentar até quando ela quiser. E espero que ela ainda queira por um bom tempo.


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