Essa vida de freela

Esse é um repost de um texto do meu antigo blog, que eu resolvi colocar aqui e atualizar, por ainda conter informações relevantes.


A vida de autônomo, o famoso freelancer. A princípio, parece uma coisa boa: trabalhar em casa, fazer seus horários... mas também tem seus problemas, como trabalho disponível em mês e no outro não, nenhuma garantia trabalhista, atrasos no pagamento. Por isso, antes de largar seu emprego formal e seguir como freela, é necessário ter alguns cuidados.

Imagem: labourbeat.org


Dicas de como trabalhar (e conseguir pagar as contas)


Ter dinheiro guardado é fundamental. Você precisa se manter até receber o primeiro pagamento, certo? Por isso, faça as contas de quanto você precisa para viver em um mês e junte o dobro disso. Só assim você estará seguro caso o primeiro pagamento demore. Tem empresas que só pagam 30 dias após o recebimento do trabalho, ou te colocam na folha de pagamento do próximo mês. Trabalhos para órgãos públicos podem demorar vários meses. Por isso, ter uma grana guardada é algo necessário. E não só para começar. Guarde sempre o que 'sobrar', para meses que o trabalho for mais escasso.

- Lembre-se que freelancers não têm nenhuma garantia trabalhista das empresas. Por isso, é prudente recolher INSS como trabalhador individual, nem que seja o mínimo. Caso você sofra um acidente e não possa mais trabalhar, pelo menos um salário mínimo de pensão está garantido. Além disso, dá para receber salário maternidade e um dia você poderá se aposentar. Caso não queira contar com aposentadoria do governo, você sempre pode ter um seguro ou plano de previdência privada.

- Outra coisa que você pode querer ter é um plano de saúde particular ou um seguro saúde para acidentes e emergências. Nem sempre dá para depender de SUS, mas aproveite o que o posto de saúde oferece também, como vacinas e exames gratuitos. 

- Algo MUITO importante: organize seu tempo. Tenha hora para acordar, para começar e para parar. A não ser que seja algo muito urgente e você precise virar uma noite, não faça disso sua rotina. E tente não ficar de pijama o dia todo. Você está em casa, mas não está de férias. 

- Faça contratos com seus clientesNão aceite nada no boca a boca. Faça orçamentos, imprima ou envie por e-mail para o cliente aprovar, sempre por escrito. Tenha TUDO registrado. Não aceite alterações em trabalhos por redes sociais ou whatsapp (e coloque isso no contrato). E sempre estipule data de validade no seu orçamento, geralmente de 30 dias. 

Acerte muito bem as datas de entrega do trabalho e do seu pagamento. Dependendo do serviço, cobre uma parte adiantado. Acerte preço de modificações no trabalho fora do combinado. Tenha ferramentas variadas para receber seus honorários, como Pagseguro ou Mercado Pago, que aceitam cartão e dividem valores. 

- Alguns clientes exigem nota fiscal do serviço, então talvez seja numa boa opção tirar CNPJ como MEI (micro empreendedor individual). Inclusive, você pode recolher o INSS dessa forma.

- Se quiser tirar férias, junte dinheiro e se organize com antecedência. Procure tirar a folga em uma época do ano em que você seja menos procurado, para não acabar perdendo um trabalho bom ou um cliente.

- Caso você queira recolher Imposto de Renda, procure ajuda de um contador. E tenha sempre o contato de um bom escritório de advocacia para se consultar em caso de processos trabalhistas.


Calculando o valor do seu trabalho


Muita gente tem dificuldade em calcular quanto cobrar por seu trabalho. Você pode cobrar por hora ou por item. Para designers ou fotógrafos que atendem em eventos, por exemplo, o ideal é cobrar por hora. Já ilustradores ou artesões, normalmente cobram por item. 

Vamos supor que você vai diagramar um livro. Se você sabe mais ou menos quantas horas vai gastar para fazer aquele determinado trabalho, você multiplica pelo seu preço de hora e tem um valor estimado. Mas sempre cobre a mais, porque 100% dos clientes vão querer barganhar esse valor.


Para calcular o custo da sua hora, você deve somar TODAS as suas despesas básicas (material, luz, internet) e a partir daí, colocar seu preço em cima. Se sua hora básica custa 10 reais (ou seja, 10 reais pagam todas as suas despesas naquela hora), você vai cobrar 10 + X, sendo X o seu salário. Se você cobrar apenas 10, vai trabalhar de graça, pois isso vai cobrir apenas despesas que você já teve. No caso, você pode cobrar esses 10 como adiantamento não reembolsável, para não ter prejuízo.

Vamos dar um exemplo: você tem que fazer algo que você sabe que vai te tomar cerca de 2 horas. Você cobraria 20 reais (custos básicos) + 100 reais (valor do trabalho em si - 50 reais a hora, seu salário) + 30 reais (valor de negociação), que dá um total de 150 reais. Se o cliente chorar, você faz 140. Se chorar mais, você faz 130. Aí ele vai querer 120 e você fecha o negócio pelo valor apropriado. Não estou dizendo que esses são os valores que você vai cobrar de verdade. Apenas você, e mais ninguém, sabe o valor da sua hora e do seu trabalho.

OBS: Esse valor de hora básica só vale se você trabalha com seu próprio material e localidade. Existem empresas que contratam freelas , mas os chamam para trabalhar na própria estrutura e já têm um valor fixo de hora ou dia para esses profissionais. Cabe a você decidir se esse valor vale a pena para aceitar o trabalho.

Se optar cobrar por item, você pode fazer uma tabela de preços com as coisas mais comuns que as pessoas te pedem e cobrar a mais de acordo com a complexidade/tipo de trabalho. Mas, no mesmo caso da hora, sempre cobre aquele mínimo de despesas e a margem extra para negociar.

Mais alguma diquinhas básicas de sobrevivência:

- Um trabalho para o senhor da lojinha da esquina, vale bem menos que um para a campanha da Coca-Cola. Assim como um texto para o jornal do bairro, vale menos que um para a Folha de São Paulo. Tenha em mente o tipo de cliente na hora de colocar um preço.

- Não adianta um valor muito alto pra um cliente que não tem como te pagar, mas também não aceite trabalhar por qualquer coisa, apenas para trabalhar. Lembre-se que você precisa do cliente, mas ele precisa mais de você. Nada mais frustrante que ralar igual um condenado e receber mixaria. 


- Trabalhar por 'divulgação' é furada. A não ser que você esteja fazendo caridade ou um projeto pessoal, trabalhar de graça não vale o estresse. Até porque, empresas sérias pagam pelos trabalhos, mesmo que não os usem.

Nunca pegue algo que você não dá conta de fazer, mesmo que o cliente pague bem. Honre seus compromissos. Se não você queima seu filme e perde um bom cliente que poderia te chamar mais vezes.

- Não adianta querer pegar grandes clientes sem ter um trabalho realmente bom e reconhecido (é por isso que um desenho do Ziraldo vale mais que o meu). Invista em seu portfólio e o mantenha atualizado com seus melhores e mais novos trabalhos.

- Se o cliente quer nota fiscal, lembre-se que você pagará impostos e deve incluí-los no custo do seu trabalho. Assim como receber em cartão de crédito está sujeito a taxas. Coloque seu preço final ajustando essas despesas.

- Se o prazo é apertado e você terá que virar a noite, cobre adicional noturno.

Saiba negociar os direitos de reprodução da sua imagem/texto/foto, ou que for. Algo que será publicado uma vez, custa bem menos que algo que será publicado várias vezes ou em uma tiragem bem maior. E tenha isso registrado por escrito em contrato. Se não você faz um desenho para sair num canto de página, ele aparece na capa e você não recebe nada a mais por isso.

Nunca entregue seus originais para um cliente sem estabelecer isso antes em contrato. Normalmente as pessoas pagam pela criação e reprodução da imagem, não pela obra física original (no caso de desenhos feitos à mão). Se você quiser vender seus originais, cobre um preço à parte, como se vendesse uma obra de arte.

- Se um cliente não gostou do seu trabalho e pediu para você fazer uma alteração (acredite, ele VAI PEDIR), engula o orgulho e MUDE. Você está fazendo algo pra ele e não pra você. Mas lembre-se de incluir um número máximo de alterações inclusas no orçamento escrito, para que ele não abuse desse recurso. A partir disso, cobre um adicional a cada mudança pedida. Isso evita o famoso 'troca essa cor só pra ver como vai ficar'. Se o cliente quer que você refaça o trabalho, você pode pedir um adiantamento antes, para não correr o risco dele simplesmente desistir e não querer te pagar.


- Seja educado, aceite críticas, saiba argumentar sem parecer arrogante. O cliente pode ser o maior chato do mundo, mas ele está te pagando, certo? Coloque-se no lugar do outro: se você estivesse contratando alguém para trabalhar pra você, talvez você agisse igual. E mesmo que você nunca mais vá trabalhar com aquela pessoa, tente manter boas relações para não se queimar no mercado. Afinal, casos ruins se espalham por aí.


- Se você já tem uma clientela fixa e não quer mais trabalhar com encomendas, talvez seja hora de investir em uma lojinha ou começar a produzir itens autorais para disponibilizar apenas em eventos. Assim você faz os itens de acordo com sua inspiração e coloca à venda quando for possível, sem se estressar tanto com prazos fixos e alterações pedidas por clientes.

Indico o site efetividade.net com várias dicas para otimizar seu trabalho ou facilitar sua vida profissonal - em casa ou em escritório.

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