Cansei de reclamar

Há cerca de 15 anos atrás, se eu perdia o ônibus pra ir para a aula, ninguém ficava sabendo. Quer dizer, não sabiam até eu contar pessoalmente. Isso se eu resolvesse contar. Hoje, quem perde o ônibus posta nas redes sociais pra quem quiser (ou não) ler.

A questão aqui é a seguinte: todo mundo sempre reclamou de seus problemas. Aliás, tem horas que tudo que queremos é botar para fora aquilo que nos incomoda, seja para quem for que estiver ouvindo. Mas com a vida online, reclamar virou o problema.

Claro que reclamar pela internet tem suas vantagens. Existem páginas próprias - até mesmo nas redes sociais - para listar problemas de prestadoras de serviço, lojas ou websites. Isso ajuda bastante a informar as pessoas sobre possíveis dores de cabeça e é uma boa arma para que diversas empresas melhorem seus serviços ou resolvam rapidamente os erros, para não serem expostos pelos clientes na web. Afinal, propaganda negativa espalha bem mais rápido do que a positiva. Ainda mais quando está tudo acessível à distância de um clique.

Mas até onde vale reclamar na internet? Ou mesmo, até onde vale reclamar na vida?



Eu cresci em uma casa onde ouvia meu pai reclamar de quase tudo. Era raro alguma coisa estar do gosto dele. E quando estava, ele simplesmente não falava nada (elogiar pra quê, né?). Ou seja, pra mim reclamar era algo normal. Até eu começar a crescer e perceber que quem reclama o tempo todo é um saco. E eu era um saco, porque aprendi a reclamar em casa.

Quando eu me realizei disso, passei a prestar mais atenção. Ninguém quer estar perto de uma pessoa que nunca está satisfeita. Isso frustra quem está ao seu redor, pois vamos convir... pra quê tentar agradar alguém que nunca acha nada agradável?

Então eu aprendi a ignorar duas coisas: a reclamação sem sentido dos outros e a minha própria insatisfação com as pequenas coisas.

No caso da minha insatisfação, foi difícil no começo... deixar passar certas coisas sem abrir a boca pra discutir exige um pouco de auto-controle. Ok, um pouco não, muito auto-controle. Mas depois que comecei, passei a ver resultados reais. Quanto menos eu me importava e deixava as amarguras pra lá, mais bem humorada eu ficava. O que me incomodava antes passou a não me incomodar mais. E quanto menos incomodada, melhor era minha convivência com outras pessoas.

Inclusive, quando a gente se policia sobre o que dizer, acabamos percebendo que muitas coisas das que nos incomodam precisam é de atitudes para ser mudadas, assim não precisamos reclamar delas. Por exemplo: ao invés de reclamar do ônibus cheio, você pode ir para o trabalho de bicicleta. Ou procurar um novo trabalho quando você percebe que só diz coisas ruins do emprego atual.

Agora, ignorar a reclamação dos outros pode realmente ser um exercício para nosso lado zen. Se você acha que controlar o que você extravasa é complicado, imagina o que os outros dizem.

Pode até ser grande a tentação de comentar o post daquele seu amigo que reclama no Twitter desde a hora que acorda até a hora que vai dormir. Ele reclama de acordar cedo, do trânsito, do chefe, do prazo do entrega do relatório, que ainda não é sexta, que está solteiro, que o preço do combustível aumentou. Todo. Santo. Dia.

E adivinhe, sempre tem alguém pra dar corda pra esses aí. Mas tente não ser um deles. Resista bravamente porque, sem retorno, é bem possível que as reclamações diminuam ou parem. No fim, a maioria dessas pessoas só quer atenção para seus problemas. E obviamente, nem todo mundo liga pra eles.

Como eu disse, reclamar de vez em quando é normal e muitas vezes necessário. Agora, ser o chato que só sabe reclamar... é isso mesmo o que você quer?

Afinal, pessoas reclamonas costumam ter dois destinos: realizarem que são insuportáveis e (pelo menos tentar) mudar, ou ficarem sozinhas, porque uma hora a chatisse cansa até mesmo quem te ama. E uma hora meu pai vai perceber isso.

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